7 de jun. de 2012

Crítica do momento - 'RETRATOS DO MEU BRASIL BRASILEIRO"

Olá!
Retorno com mais uma crítica com o intuito de instigá-los / -las a visitarem as curtíssimas apresentações da

MOSTRA INTERNACIONAL DE MÍMICA 
Teatro FUNARTE Plínio Marcos
7 a 10 de junho

Hoje:
RETRATOS DO MEU BRASIL BRASILEIRO
Ator - Miqueias Paz (DF)

Composto de três quadros sucintos e de confortante simplicidade, a apresentação desta noite (infelizmente SÓ desta noite) abriu a Mostra com qualidade artística, tornando-se a prova de que precisamos de mais e diversos espaços - físicos e de pauta -, para os diversos gêneros teatrais.

Palco, vazio. Ou melhor, ali tinha tudo o que nos foi necessário para se deleitar com as narrativas mímicas de Miqueias Paz, ator da cidade e de sensibilizada capacidade teatral. Tinha o palco, nu, e o ator, quase nu. No primeiro bloco, o início de nosso país: a colonização sintetizada na relação entre colonizadores - ou invasores, como preferirem - e nativos. Entre a tom cômico da tragédia passada em revista no presente e dos sensíveis momentos de luta pela própria integridade e liberdade, fui lembrado do injusto início da história de nosso povo. E como ela ainda ressoa na macro política de nossa sociedade. Reação ao final: ovacionado com surpresa pelo impacto e concisão!

Segundo quadro e o palco torna-se sonho, de novos usos para os pés e o corpo de personagem ainda não definido. Até que nasce o sol e veste-se a saia. Temos o cotidiano da mulher que é tudo e nenhuma imagem para si possui. Atropelam-se os afazeres da recente mãe, com a esposa dedicada e a dona de casa com as intempéries da ausente infra-estrutura estatal e da ausente infra-estrutura de caráter de seus empregadores. A, novamente, concisa narrativa acumula pontos percebidos em várias mulheres: ignoradas, abusadas, pacientes, competentes, fortes, cansadas. E o fim, olhos mareados pela força da crença em si que transforma a personagem em heroína de si mesma. Era o que faltava para tornar-se ela mesma: encontrar a completude na auto-defesa e auto-amor. Novamente, tiro ao álvaro por parte de Miqueias.

Terceiro e último quadro: o homem, que trabalha, que labuta, que depende. E a diferença dos quadros anteriores. Se aqueles eram permeados por certeiras palavras e frases que mantinham e se agregavam em simbiose à gestualidade do ator, neste a batucada quebrada dava o tom do cotidiano. Era porém não uma trilha sonora, mas o andamento do próprio caráter e coração que se refazem e contaminam a cada segundo vivido. E nessa transformação, o último e certeiro tiro de Miqueias: o caminho feito por tantos que sucumbem a incerta e nada justa realidade brasileira.

Da noite, ganhei a bela apresentação de Miqueias de presente, ganhamos novo espaço com nova contribuição - e deve-se dizer, bela contribuição - para a formação de público no que diz respeito ao teatro de mímica. E do trabalho cuidadoso e limpo de Miqueias Paz, fez-se uma lição de teatro e uma aula de brasilidade. O batido slogan 'Eu sou brasileiro e não desisto nunca!', perde seu lugar para uma realidade mais amarga, porém sincera e até refrescante. Somos brasileiros e não nos falta motivos para resgatar o real peso de ser cidadão!

Bravo Miqueias, Bravo FUNARTE e envolvidos!

Aos que consegui incitar, aproveitem!
Cada apresentação só possui uma sessão.

Acessem:
ocupacaopliniomarcos2012.com.br


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