11 de jan. de 2014

No canto

Abriu a porta. Do cômodo. Não a sua própria.








No centro de sua solidão física,



 
                          a fechadura.




À sua volta, a solidão etérea. Suspirou e fez
                                             cair
                                                  os
                                                     ex
                                                       ce
                                                         ssos.

Amadurecia e descobria-se oco. As suspeitas previam tristeza diante da inevitável sentença de vazio. Amendrontaram-se ante a tal macabro prognóstico. O homem, homem-armário, com suas portas fechadas e seu interior inabitado apenas sorria.

Em silêncio porém assumia a existência de um medo. Cerceava as margens de sua memória o instante quando de suas portas escapara-lhe a chave. Crescendo trancadas, as portas seguiram rumo. O homem-armário fez-se gente. 


                         O   t e  m  o  r,                 


no vazio, engrandeceu-se, porém. Temia ele a descoberta, fosse lá qual fosse a cova indigente em que se encontrasse, de sua chave. Não porque iria ela desvelar seu vazio, mas porque permitiria aos outros que olhassem em seu interior. Mas antes que adentrasse seu próprio mistério, o dia chamou-lhe à realidade e ele nela pôs-se a caminhar.

O medo continuaria a espreitar-lhe, em seu canto de memória. Sua mal estimulada curiosidade impedia-lhe de tornar visível aquilo que aos olhos era invisível. Ainda que pacientemente por ele esperasse. Em paz, ali jazia o potencial mal vestido de ameaça. 




chave