2 de abr. de 2012

E para que serve arte?

Estive ontem no cinema e fui assistir a PINA, uma homenagem de Wim Wenders à coreógrafa, dançarina, diretora e pedagoga da dança - uma artista alemã - Pina Bausch.
Sua última fala: ‘Dance, dance ou estaremos perdidos!’.
Há algum tempo venho me questionando sobre a importância da arte e, mais ainda, se realmente deve fazer parte de nossas vidas como algo intrínseco ou se é apenas um luxo.
Apesar de a maioria não pensar na linha da resposta que escolho a essa pergunta, fico com o algo intrínseco.
Entre avanços tecnológicos, anúncios de novas descobertas – seja de doenças ou de curas -, entre manchetes de corrupção e do cultivo e exaltação da violência e de comportamentos medíocres, algo escapa a essa infame ideia de progresso. A arte, a produção artística, as e os artistas, mais claramente perceptível em nosso país, não ocupam lugar nessa linha de fronte.
Enquanto fala-se cada vez mais de indústria cultural, de incentivos à cultura e da busca por melhores modos de subsidiar a produção artística, sofremos uma crise interna no mundo artístico. Ao que me parece, e se bem observamos durante a história da arte é o que sempre apareceu, a música, dentre tantas outras áreas, é a que melhor tem se preservado no caminho de discussões e da prática de evolução de seus recursos e discursos.
Parece hoje haver uma dispersão de vontades, mantida em movimento pela divergência entre crenças, estilos, opiniões e compreensões sobre o que deve vir a ser o discurso artístico. Porém, ao invés de constituir uma consciente diversidade artística, acabamos por enfraquecer nossa potência interventora da realidade e da vida por não termos um senso de comunidade artística fortalecido, quiçá um sentimento em comum. Caminhamos para todos os lados sem chegarmos a nenhum e acontecemos aos pedaços, morrendo com curta vida útil.
Sim, a mentalidade de nosso país e sociedade é retrógrada no que diz respeito à participação da arte em nossas vidas. Não se entende mesmo e até segunda ordem parece não importar como algo relevante.
Uma sociedade porém não sobrevive e se mantém saudável só com médicos, ciência e educação (não que tudo isso também seja devidamente valorizado, mas parece estar mais em evidência). Sem entrar em méritos ou crenças religiosas, também temos uma parte que escapa aos cuidados das mencionadas áreas. A arte tem uma função social muito clara e muito sutil. Alimenta-se primordialmente de sensações e sentimentos e tece sua conexão justamente a partir desses pontos. E num presente em que limites psicológicos e morais são puxados ao limite, em que a tolerância é esticada até quase estourar e que o respeito à próxima ou ao próximo são soterrados por interesses egoísticos e gananciosos, a inserção da prática artística como prática de nutrição, cura e estímulo da vida (biológica e anímica) com certeza baixaria a pressão interna de nossos corpos, fazendo-nos mais capazes de lidar com tais abusos. Prática também do despertar de nossa dimensão política e, por favor, entendem-na em sua máxima amplitude. Há política dos afetos, micro e macro políticas, política como os vapores resultantes das relações. Em todos os níveis. A partidária é a menor delas, ao meu ver. A mais engessada.
Há sintomas que se espalham e se fazem visíveis a torto e a direita. Quanto mais precisaremos explodir e prejudicar a nós mesmos e aos outros para começar a valorizar nossa porção emocional e subjetiva?

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