16 de fev. de 2012

Vamos rir!


Vamos rir

Eu, que me acho uma pessoa séria, tenho passado por uma remodelagem de perspectiva. Nada melhor do que expô-la aqui para vocês mês querides.
Quanto de nosso tempo dedicamos a rir? Ou ainda, quanto tempo de nossa vida nos fazemos rir? De cá e de lá ecoam os batidos ditados de que ‘Rir é o melhor remédio’, de que rir faz bem pra alma, enfim, de que, em essência, o riso é algo poderoso e terapêutico. Como fazer isso funcionar? Não existe até hoje pílulas do riso para serem tomadas entre as refeições, não dá para contratar um personal clown que nos aplique os recursos da comédia diariamente e muito menos, na frenética cotidiana, não é uma prática incentivada de nossa cultura fazer piada sobre nós mesmos, nos expondo ao nosso próprio ridículo.

Mesmo que isso possa nos ajudar e muito... em muito.

                O riso pode surgiria como a compensação da quebra de um paradigma. O riso seria causada portanto por quebra de paradigmas, pela quebra da linearidade do raciocínio óbvio – ou que segue uma linha aparentemente óbvia -, por inserção de contradições, pela paródia ou canto paralelo, pela inserção de raciocínio absurdo em contexto aparentemente cotidiano, pelo contraste...são inúmeros os recursos, tanto literários quanto teatrais, para se fazer rir.
                Um ponto importante a se repensar é que em nossa cultura predominantemente católica, a culpa, o erro ou aquilo que renderia material para auto-ridicularização é encorajado a ser mantido para si, guardado como o erro. Poucos sabem, e eu me incluía nesse grupo até poucos dias, a prática de comédia Stand-up veio do protestantismo e da cultura judaica, em que os erros eram expostos pra comunidade, assumidos em frente a ela. A prática de Stand-up não é somente a prática de contar piadas em pé, mas de se levantar e se pronunciar. Ter algo a dizer. Por isso, comumente, o comediante começa falando de si, expondo-se e desnudando-se para o público, diminuindo a distância entre ambas as partes e dando-o, quase que de pronto, direito de fazê-lo com o público.

                Aonde quero chegar? Calma... Outro recurso interessante para se explorar a comicidade é a multiplicação dos pontos de vista. Duas crenças permeiam minha vida: a de que a arte, quando parte constante da vida, contribui, com potencial qualitativo de nutrição anímica, para a formação pessoal. A outra, a de que o sistema de educação deveria se desligar em parte da neura bancária de conteudismo e treinamento de informação, para se voltar a práticas que nos fizessem perceber a necessidade de estarmos no centro de nós mesmos. Confuso. Práticas que nos ajudassem a desenvolver uma propriocepção total, permeada pela educação sensível – sensações, sentidos e sentimentos - e educação lógica – raciocínio lógico, abstrações conceituais e habilidade expressiva numérica e vocabular. Menos confuso?

Multiplicar pontos de vista seria útil, assim, para nós mesmos nos estranharmos, intervindo em nossa própria vida. Achar o equilíbrio é uma meta interessante e que parece estar na essência das grandes filosofias de vida. O equilíbrio, a harmonia de forças em nós. A multiplicidade de gêneros em uma obra reflete com perfeição a multiplicidade de potências emocionais em nós. O excesso de drama, o excesso num ponto único aproxima-se da obsessão, que por sua vez se aproximaria na fixação de nossa percepção num único ponto enquanto o restante de nossa paisagem vital se torna um borrão. A perspectiva se desmancha e o peso se nos cai. E com ele, desmorona nosso mundo. Tornamo-nos assim personagens de nossas próprias tragédias. Como diria o poeta, a dor é inevitável na vida, o sofrimento, opcional.
               
                Empresto uma frase que me foi presenteada por uma recém-descoberta amiga: É melhor ser inteiro do que ser bom (parafraseada). E poderia listar várias outras belas frases que giram em torno de algo que cada vez mais me parece distanciado de nós. A percepção e aceitação, acima de tudo, de nossa falibilidade. E de nossa fraqueza. E de nossa influenciável natureza. A arte tem diversas funções, entre elas a necessidade de questionamento, de reviravolta das convenções e quebras de raciocínios obsessivos, como citado antes.
                Porém nada disso acontece se não começarmos conosco. E aceitar o próprio ridículo, as próprias falhas, ao contrário de enfraquecer, fortalece a própria imagem. Afinal, não é insulto quando o que vem de fora já foi dito pela pessoa que mais convive com você: você mesmo.
                Buscar o humor como parte de si, aceitar-se ridículo me parece um passo fundamental para quem se deseja em movimento. Progressivo.
                A vaidade importa, o orgulho, também. A quebra deles, mais ainda. A ilusão da segurança traz certa imutabilidade de caráter e de opiniões que me parece externa e estrangeira à natureza humana. E aprender a reconhecer a própria instabilidade e suas flutuações de humor é aprender a lidar consigo mesmo.
E os gregos que a consideravam arte menor... Talvez por medo, por reconhecerem que, na verdade, é pela comédia que se fortalece o caráter, que se limpa as obsessões e que se abre os olhos para outros ângulos da realidade.

                Tarefa nada fácil... Mas quem foi que disse que comédia é algo fácil?

                                                                              (Risos)

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