23 de jan. de 2012

E eu vou escrever sobre o que?

Entre tantos temas selecionados, não escolherei nenhum para hoje.

Hoje abro as portas e os sentidos para o acaso. Assim, de impromptu, vejamos aonde chego.

Tenho buscado conceitos, sentidos e esclarecimentos sobre o papel e a função de vários aspectos da arte, do teatro. Mas conceitos, por mais que torçamos o nariz, servem para outros âmbitos que não o cotidiano. Bem, claro da existência de exceções, não lemos o conceito do café e de sabor para apreciar uma xícara recém-feita da intensa bebida. Estamos ali e feito o encontro, dá-se a relação.

Para quê então o exercício? Alguns de nós sentimos afinidades com certas coisas na vida que não sentimos com outras. Não entro no mérito do destino. É menos pretensioso que isso. Digo-lhes de mim, numa intimidade virtual, que não me apeteceria fazer nada mais da vida que arte, que teatro, que música, que escrever. Não me apeteceria organizar-me d’outra maneira que não para a transformação da sensibilidade e sentimentos em matéria de alimento, em física sensível. E por que razão? Não me seria saudável ou suportável. Aprender a lidar com isso é complicado, é duro e cansativo. E pronto. Para todos.

Alguns teóricos tentaram na história do teatro ocidental dizer qual o modo de se atuar – Diderot e o Paradoxo do Comediante -, ou definir em que se consistia o caráter do teatro do século XX – Lehmann e O Teatro Pós-Dramático -, mas, à medida que adentro os estudos da arte, e isso me é necessário pois não me parece prudente querer navegar sem ter curiosidade pelas águas em que se navega, percebo que ganhar-se-ia mais percebendo a produção artística como um sintoma do tempo em que ela ganha existência, do que querendo coloca-la num molde de ‘se não for assim, não é arte’. E aí, ela se aparenta à ideia de cultura. Quase.

Acabo me convencendo que discutir arte hoje é pretensão. Pois quando nem mais sabemos a utilidade de outras áreas como educação, ou ainda, se nem mais somos capazes de lidar com nossos próprios limites e fragilidades, como querer discutir arte? E nessa lógica, tudo se relativiza? Não. Nessa lógica se intensifica nossa necessidade de arte, ou ainda, nossa necessidade de retomarmos o contato com o que o trabalho artístico exige para existir e funcionar. Ah! Funcionar. Tem de funcionar, e essa certeza temos, me parece, em sua duração em nós. Quando perdura, funciona. Quando não, foi-nos mais um alento para a tão desconjuntada caminhada.

Numa transversal, o exigido é, parafraseando os surrealistas, o tempo, a dedicação e quão entregue o artista esteve para que sua obra, produção, resultado, enfim, ganhasse forma, matéria, ocupasse como corpo um espaço.

Não quero fechar um sentido desta vez. Quero abrir linhas. E tecer um horizonte que desperte a ciência em nós da necessidade básica de nos ligar com o outro. Não é no sobrenatural que se encontrará nossa salvação, mas em algo mais simples e menos pretensioso, que dispensa elucubrações demasiadas. E isso começa com apenas um contato...

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