29 de dez. de 2011

O tom do próximo ano...

Será algo próximo do que tenho feito já neste...mas regular.

Tenho lido livros sobre arte, livros sobre religião, buscando encontrar melhores explicações sobre aquilo em que acredito e aquilo que nego, respectivamente. Um certo caminho tem surgido nas análises pós-leituras e é por ele que desejo me enveredar.

Por tópicos:
-Sobre a necessidade de se ter religião ou ser religioso;
-Sobre a natureza humana ou o que entendemos por caráter;
-Sobre a potência formadora da arte e sua possibilidade de substituir a religião;
-Sobre o lugar que arte (não)ocupa em nosso cotidiano e em nossa formação;

Antes de tudo, meter-me com tais assuntos é, primeiramente, mais uma necessidade pessoal do que uma tentativa prepotente de encontrar a resposta correta para tais questões...Mesmo por que respostas acabam sendo mais ou menos convincentes, frutos de discursos melhor ou pior estruturados.

A minha não crença em Deus reflete a crença na capacidade do ser humano de se forjar mais e melhor do que esta miséria medíocre que tanto salta aos olhos nos últimos tempos. Porém, e aí entram os livros lidos, como manter essa preocupação em movimento? Há que se ter constância nesse movimento, uma lembrança e relembrança de nossa insignificância frente ao tamanho do universo, limites, fragilidade de nossa natureza e por aí seguimos... Retira-se a religião e o que poderia, com igual potência, fazer o papel de nos formar? de nos relembrar daquilo que precisamos lembrar para não ceder aos gritos egóicos que nos movimentam? Aos impulsos de nossos aformatáveis desejos?

Não é novidade para os e as que já se enveredam por esse tipo de questionamento que a arte poderia tomar esse lugar, e com maior contribuição que a religião. Nietzsche me parece ser o nome de maior ressonância nessa área. Há Camille Paglia também...

Ao tema, ao tema...
Falar assim 'A arte' dá um ar de entidade a algo que é mero termo para designar o complexo trabalho de artistas, pessoas que, num conjunto expressivo, se alimentam d'um mesmo terreno (sensorial e emocional) e sobre ele tecem discursos e geram sentidos (materializações e obras). Acho que a partir disso pode-se ter uma boa ideia do que quero falar. Pois bem...A arte tem sido mantido ao longo da história por outros poderes de maior capacidade monetária, como figuras da corte, igrejas e instituições de similar porte.
Hoje porém nos encontramos em plena era da indústria e do comércio cultural. Disso já há muito que se falar, mas resumindo, dizer que hoje a indústria cultural rege a lógica de produção artística seria dizer que o pensamento artístico se formata de modo a ceder às exigências da indústria: venda e lucro. Para tanto temos a simplificação de produtos, a facilitação de consumo e até entendimento. Nesse insano lugar comercial, misturam-se valores, destroem-se tradições e desconstroem-se técnicas e conceitos até então base para a criação artística. Hoje não mais se sabe dizer o que é arte, para que serve a arte ou quem a produz realmente e quem a finge produzir. A banalização do termo me incomoda sobremaneira, pois impede uma discussão mais lúcida sobre os limites dessa influência publicitária e mercantil vulgar sobre o trabalho artístico que se preocupa com mais do que apenas lucrar.
Sem demagogias, o dinheiro importa sim para a sobrevivência do artista, mas como escrito antes, o terreno sobre o qual o/a artista trabalham é terreno dos sentidos, tanto como material de criação quanto como campo de recepção daquilo que virá a materializar impressões sobre o mundo, sobre o que entendemos por sentimentos e emoções. E tais resultados até pouco tempo carregavam sabedoria em si sobre aquilo que representavam. Carregavam sentido imaterial, e nos preenchiam deles à medida que ainda não eramos anestesiados e os podíamos sorver.
Talvez nada disso importe mais, talvez as pessoas queiram ter seus sentidos estimulados e perderam o 'como'.

Nos muitos discursos ouvidos neste ano, estava presente o 'desconstruir' como caráter intrínseco da arte do século XXI. Perto dele, o caráter 'político' e perturbador da arte...Herdamos hoje as piores épocas do pensamento artístico. Piores em termos criativos e expansivos para o intelecto e a razão sensível dos artistas em formação. Perdemos com o romantismo e perdemos com o realismo. Perdemos duplamente com a menos-valia dada aos movimentos europeus do início do século passado. Perdemos por termos permitido que se tornassem itens da história da arte, sem sermos capazes de sorver-lhes seus sentidos e seus mecanismos de criação, de trabalho e seus conceitos de vida, de arte e de limites.

A partir do ano que vem buscarei de modo regular postar curtos trechos de meus estudos sobre os movimentos artísticos que representam maior peso em nossa história, bem como seus mecanismo de criação, tanto Brasil quanto fora.
Desconfio cada vez mais que o papel dos artistas do século XXI é não desconstruir tudo, mas colocar as mãos na massa e limpar o terreno conceitual para novamente consolidarmos base que possibilitem uma continuidade do trabalho artístico consistente, sendo capazes até de responder para que a arte existe em nossas vidas. Desconfio que seja tempo de nos voltarmos a tudo que já foi feito, refletir sobre e construir, conscientes de nosso tempo, nosso entendimento de nossas potências, possibilidades, direitos e deveres.

Sem mais,
enorme e afetuoso abraço!
Mateus Ciucci.

Feliz Ano Novo para vocês!
:-)

(BOTTON, Allain de. Religião para ateus.
NIETZSCHE, Friedrich. Assim falou Zaratustra.)


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