Ultimamente tenho tido devaneios sobre a questão do gênero na língua portuguesa...Como poderíamos representar gramaticalmente ambos gêneros num plural? O que me levou a considerar o fato de a língua alemã ter três gêneros...o masculino (representado pelo artigo der), o feminino (representado pelo artigo die) e o neutro (representado pelo artigo das)...por que não considerarmos um novo final para as palavras que queiramos que designem o plural de duplo gênero?
Portanto, tentarei algo nos meus posts que seguem...apenas uma singela tentativa de incluir no meu discurso a compreensão da pluralidade de gêneros.
Portanto, tentarei algo nos meus posts que seguem...apenas uma singela tentativa de incluir no meu discurso a compreensão da pluralidade de gêneros.
Olá a todes!
Estive domingo no teatro com alguns amigos.
Fomos assistir a 'As Três velhas', com direção de Maria Alice Vergueiro e texto de Alejandro Jodorowsky.
Apesar de não ter lido o texto ainda, consegui (creio) identificar o que era do texto e o que era colocação dos atores e mudanças por escolha da direção.
O texto tem momentos belíssimos e cenas fortes. Faz uma crítica sobre a decadência da aristocracia, a valoração dos rótulos, nomes e poses sobre a dignidade, a qualidade de vida e a honestidade consigo mesmo. Importaria no caso mais o que o mundo entende de nós, do que nós sabemos de nós mesmos e o respeito que daríamos a nossa integridade...
O que me incomodou porém foram certas escolhas. A força das imagens evocadas pelo texto (e parafraseando Henri Bergson, por imagens quero dizer tudo aquilo que estimula a imaginação e não somente o visual) se enfraqueceram com o reforço das imagens de decadência evocadas pela encenação, pelo figurino e pela maquiagem.
Ou seja, o que poderia ir se desvelando à frente e com o auxílio da imaginação do público já lhes foi dito duas vezes...pelo texto e pela encenação.
Mais adiante, em relação ao fato de ser o último dia de apresentação, parece-me que um dos atores (ou que me ficou mais perceptível) tomou algumas liberdades e incluiu cacos e piadas da atualidade na cena...trazendo assim uma comicidade pobre a uma cena que nos contava como a personagem havia sido batida e ridicularizada.
Chego então ao primeiro questionamento...Até que ponto o artista pode se dar liberdades com o público sem prejudicar o todo da obra, sem prejudicar ou diminuir o impacto, o efeito do que foi prometido ao público? E como ele mediria o sucesso ou insucesso dessa mudança, desse improviso? Pelas palmas ao final da peça, pelos risos ou pela vaia?
Sinceramente, nunca vi uma peça ser vaiada em Brasília...ou uma manifestação de um público desgostoso que se colocasse contra um espetáculo mal encenado...O que quero dizer é que...ou todos as apresentações que chegam em Brasília são ótimas, ou o nosso público não se sente impelido a exigir um aumento de qualidade e 'tanto faz como tanto fez' desde que no final das contas, eles se divirtam um pouco...
O outro ponto da apresentação que me incomodou...Ao final, há uma mudança brusca da linguagem da encenação e caminha-se de um drama (de modo geral) a um humor excrachado. Faz-se então uma referência explícita ao destaque da atriz e então diretora Maria Alice Vergueiro dado pelo seu vídeo no youtube 'Tapa na Pantera' sem que o nome fosse dito, mas percebe-se. A mudança final faz com que toda a tensão e crítica presente no texto se perca num humor batido e ao final, eu saí desenganado.
Sinto-me obrigado porém a apontar e louvar as cenas que me tocaram, afinal, a crítica para mim é mais um exercício de reflexão sobre a coerência do discurso com o que se materializou, por parte dos artistas.
A cena da mãe ao final da peça que revela as filhas como elas vieram ao mundo e se oferece como comida para que não morram de fome é especialmente poética até que cai na comédia novamente. Em seguida, a cena da filha que permanece em casa e dialoga com o pai é forte e mostra uma parte chave para a compreensão do estado existencial da personagem, dando abertura ao público a conjecturar sobre a relação entre ambos.
Mais do que isso, a peça me rendeu algumas risadas e momentos bonitos, mas o que lhes quero compartilhar é que há muito que venho vendo cenas bonitas e não um todo completo que me roube a atenção e me altere a existência pelo espaço-tempo que ele ocupe...Sinto falta da completude que a experiência estética possibilita, sinto falta, mesmo que não seja da transcendência de outras experiências que tive com a arte, pelo menos da coerência e da consciência da relação entre os direitos, responsabilidades e gozos des artistes e seu comprometimento com e públique.
E convido todes a pensarem sobre a questão...
Minhes querides, fico por aqui.
Fomos assistir a 'As Três velhas', com direção de Maria Alice Vergueiro e texto de Alejandro Jodorowsky.
Apesar de não ter lido o texto ainda, consegui (creio) identificar o que era do texto e o que era colocação dos atores e mudanças por escolha da direção.
O texto tem momentos belíssimos e cenas fortes. Faz uma crítica sobre a decadência da aristocracia, a valoração dos rótulos, nomes e poses sobre a dignidade, a qualidade de vida e a honestidade consigo mesmo. Importaria no caso mais o que o mundo entende de nós, do que nós sabemos de nós mesmos e o respeito que daríamos a nossa integridade...
O que me incomodou porém foram certas escolhas. A força das imagens evocadas pelo texto (e parafraseando Henri Bergson, por imagens quero dizer tudo aquilo que estimula a imaginação e não somente o visual) se enfraqueceram com o reforço das imagens de decadência evocadas pela encenação, pelo figurino e pela maquiagem.
Ou seja, o que poderia ir se desvelando à frente e com o auxílio da imaginação do público já lhes foi dito duas vezes...pelo texto e pela encenação.
Mais adiante, em relação ao fato de ser o último dia de apresentação, parece-me que um dos atores (ou que me ficou mais perceptível) tomou algumas liberdades e incluiu cacos e piadas da atualidade na cena...trazendo assim uma comicidade pobre a uma cena que nos contava como a personagem havia sido batida e ridicularizada.
Chego então ao primeiro questionamento...Até que ponto o artista pode se dar liberdades com o público sem prejudicar o todo da obra, sem prejudicar ou diminuir o impacto, o efeito do que foi prometido ao público? E como ele mediria o sucesso ou insucesso dessa mudança, desse improviso? Pelas palmas ao final da peça, pelos risos ou pela vaia?
Sinceramente, nunca vi uma peça ser vaiada em Brasília...ou uma manifestação de um público desgostoso que se colocasse contra um espetáculo mal encenado...O que quero dizer é que...ou todos as apresentações que chegam em Brasília são ótimas, ou o nosso público não se sente impelido a exigir um aumento de qualidade e 'tanto faz como tanto fez' desde que no final das contas, eles se divirtam um pouco...
O outro ponto da apresentação que me incomodou...Ao final, há uma mudança brusca da linguagem da encenação e caminha-se de um drama (de modo geral) a um humor excrachado. Faz-se então uma referência explícita ao destaque da atriz e então diretora Maria Alice Vergueiro dado pelo seu vídeo no youtube 'Tapa na Pantera' sem que o nome fosse dito, mas percebe-se. A mudança final faz com que toda a tensão e crítica presente no texto se perca num humor batido e ao final, eu saí desenganado.
Sinto-me obrigado porém a apontar e louvar as cenas que me tocaram, afinal, a crítica para mim é mais um exercício de reflexão sobre a coerência do discurso com o que se materializou, por parte dos artistas.
A cena da mãe ao final da peça que revela as filhas como elas vieram ao mundo e se oferece como comida para que não morram de fome é especialmente poética até que cai na comédia novamente. Em seguida, a cena da filha que permanece em casa e dialoga com o pai é forte e mostra uma parte chave para a compreensão do estado existencial da personagem, dando abertura ao público a conjecturar sobre a relação entre ambos.
Mais do que isso, a peça me rendeu algumas risadas e momentos bonitos, mas o que lhes quero compartilhar é que há muito que venho vendo cenas bonitas e não um todo completo que me roube a atenção e me altere a existência pelo espaço-tempo que ele ocupe...Sinto falta da completude que a experiência estética possibilita, sinto falta, mesmo que não seja da transcendência de outras experiências que tive com a arte, pelo menos da coerência e da consciência da relação entre os direitos, responsabilidades e gozos des artistes e seu comprometimento com e públique.
E convido todes a pensarem sobre a questão...
Minhes querides, fico por aqui.
Boa semana a todes!
¿Ves?...A fin de cuentas valía más la pena ver Río con tu amiga española...lo hubieras pasado mucho mejor ;-) Por cierto, bonita foto de perfil..no pienso ir a ver ninguna obra de teatro contigo (por lo menos en Brasil) porque vas a quedarte enfadado!!!!
ResponderExcluirAdorei a critica, Matheus! Eh a primeira vez que vejo uma critica que nao seja so de meter o pau ou elogiar, mas uma observaçao sobre a obra assistida. Saudades, mon cher! Um beijo enoooorme!
ResponderExcluirMirella