22 de abr. de 2011

Parabéns cidade!

Olá a todos e todas!


Em homenagem à cidade de Brasília e seus 51 anos...

Estive lendo o jornal ontem e vi as fotos em 3D no caderno de cultura...ou diversão...enfim...

Chamaram-me a atenção duas coisas...O destaque à estréia das fotos em 3D no jornal (ganhei até um oclinhos de brinde para poder apreciar as fotos) e os eternos elogios à cidade e à arquitetura. O que me levou a mais uma vez repensar o mérito de tudo por outro ângulo perceptivo.

Destaco para este post os elogios e o destaque à Brasília.

Não me lembro de ter mencionado aqui anteriormente, mas sou pernambucano, de Recife. Moro em Brasília há (...) 17 anos, mais ou menos. A minha percepção de Brasília é a de uma cidade mutante e viva que tem sido modificada nos últimos anos de modo rápido, acelerado até e tem sido alvo de muitos migrantes e novos moradores. Até aí, tudo tranquilo. É o curso de todo centro urbano, metropolitano, certo?

Mas o detalhe vem agora: moramos na capital do país! Eu, entretanto, costumo chamar Brasília de capital admnistrativa, porque, convenhamos, mais do que isso ainda não temos. O que mais se destaca é o crescimento imobiliário e o mercado de concursos, de funções públicas. Já se pode reconhecer o perfil dos jovens e das famílias que moram aqui.

Faço agora uma digressão e peço que me acompanhem...

Enquanto na universidade, umas alunas do curso de jornalismo/comunicação (não me recordo com exatidão) vieram entrevistar alguns alunos de teatro para saber suas opiniões sobre Brasília.

A última pergunta: 'O que você acha que falta em Brasília?'

A resposta: 'Humanidade!'

Reação: ...
(risos)

Pois é justamente essa sensação que mais me marca em Brasília...A falta de humanidade, a falta de uma ligação afetiva entre as pessoas e dos habitantes com sua cidade. E não digo demonstrações durante datas comemorativas ou aniversários...se é que me entendem. A arquitetura é bonita, mas de que serve aos artistas da cidade o teatro com a pior acústica do país? E de que nos serve um museu sem paredes?

Brasília é uma cidade imensa, com belíssimos espaços vazios e como disse em um post anterior...espaços vazios são ótimos para serem ocupados por ideologias dominantes...Há que criar políticas culturais que permitam vida a esses espaços abertos, públicos. Por outro lado, creio que há um comodismo entre nós artistas da cidade, que nos faz esperar por chances e por fatias do orçamento para subsidiar nossos projetos...Há somente essa oportunidade e esse caminho para fazermos nosso trabalho? Ou podemos fazer mais que isso e buscar alternativas outras para ocupar tais espaços? Há grupos fazendo isso, mas não há divulgação eficiente...

Creio ter elencado alguns pontos interessantes aqui...Sugiro que andem pela cidade e se relacionem com ela de modo diverso, percebam-na diretamente! Falta afeto e não só em relação a como o espaço físico da cidade é percebido, mas na ligação imaterial dessas mesmas pessoas com a escolha de vida delas. Falta em Brasília o que, mesmo distante 17 anos da minha cidade, eu tenho com Recife. O orgulho, o prazer de saber-me parte de lá, de saber-me integrante da cultura, do povo, do sotaque....Brasília é nova demais para ter história, mas é igualmente nova para estar faminta por afeto, por ligações imateriais com aqueles e aquelas que nela habitam e dela desfrutam...

Deixo-vos com um poema que escrevi sobre Brasília...Espero que gostem!

'Oi! Muito prazer!
Eu me chamo...
Na verdade...vocês já pararam para pensar quem
vocês são?
Vocês têm nome, mas não são ele
Rosto, mas nele não reside sua
identidade
Cultura, mas não é sua essência.
Aliás, essência?

Chão, verde, vidas agrupadas
Ah! Nem me fale! Raízes?
De modo algum! Modo...
Passos Formigas Não cigarras.
Cigarras.

Filhos meus. Milhões nascidos.
Adotados. Sou mãe!

Via vai voando baixo
Corre cotia razzante
Vivavoltavivovazio
Veja você vulto vibra

Tenho belos seios e curvas
Corpos Pulsando polpas
Brisas cabelos ao vento
Gente jovem disperçada

Reduziram-me poética em flores coloridas, arranjadas. Resumiram-me esteticamente floral, cotidianamente matemática e tacitamente satisfeita.

Feitos. Grandes feitos
Promessas bradadas
- Vou conseguir fazer-lhes habitar!
Fazer-lhes sonhar!
Prosperar no futuro
Crer na minha segurança

Eu? Oi? Vocês são?
Sou muitos, agora mesmo
tímida lhes falo que...
Vergonha! Mesmo falando
eu não ouço os que habitam em mim

Grande. L a r g a. Pretendida humana. Visão do futuro.
Tocada por deuses.
Projetada por outro Deus.
Vivo. Deus endeusado.

Quiseram-me representante, antropofágica
Como alma de minha mãe e história de minha família.
Alçada que fui, reluzo branca
sobre sapatos vermelhos poeirentos.

Ouviram? Tenho crescido e ensurdecido. Parece-me que chega algo novo! Chegou!
Reduziram-me histórica e imutável monumento.
Miss! Fui feita Miss '61!
Patrimônio da humanidade.

Digeridas restam-me somente os ossos de meus pais. Confesso-me desprovida de atributos, de qualidade de meus inimigos. Abrigo fragmen... de cará... pesso.. ..cusas, ..cândalos, fofo..., discur...
Espelhos arrepiam-me as britas e verdes cabelos de minha (estéril) pele
Vejo-me cubista, veem-me promessa
Vejo-me vazia, veem-me inchada
Vejo-me prepotente, veem-me suprema sinuosidade concreta de gênio
Espelhos verbais impressos querem-me alma de minha mãe e pais. Eu queria-me fértil. Suplantaram-me o desejo de ser mais. Sou corredor de celebridades. Sou corredor histórico. Sou estéril...

Juntem-se! Tem parte de mim que...melhor não dizer...
é-me constantemente esquecida, dita resolvida.
Injustiça e inumanidade germinam-se no esquecimento e explodem de seus recalques soturnos.

Façam-me rizomática! Criem-me raízes/Façam-me pulsar, resgatem-me o coração/Façam-me como pretendida, alma antropofágica de minha mãe, resgate e vingança histórica de meus pais que me fizeram crescer/Ergam-me como discursada e pintem-me materializadas as promessas celestes que, modéstia à parte, é minha melhor veste de gala!

Confissão:
sou, sendo o único a viver sem definir-me de acordo com meu destino. Igual a mim, habitam-me vários. Múltiplas (des)personalidades errantes.

Convocação:
resgatem-me de meus filhos e netos - massivos, de meus tios e tias promissores

Fizeram-me nascer, quebraram-me a voz, partiram-me o coração,
desconfiguraram-me a alma.
Reduziram-me a viveiro de desalmas. Façam de meus sulcos e vazios ecos para que se alcem suas almas.
Ajudem-me a existir no mundo e completem-me a vida. Ergam-me mais colorida, humana. Mãe. Estética. Vibrem em consonância comigo.

Ah! Sim...Como ia dizendo, chama-se Brasil minha mãe, chamam-se candangos meus pais.

Eu?

Chamo-me Brasília.

Vocês quem são?'

(M. Ciucci - 11 de janeiro de 2011).

2 comentários:

  1. Lindo, Matheus!!! Obviamente, quando eu me vi em Brasilia, eu tambem senti a necessidade de mais humanidade, vivia ligando para meus amigos, formamos uma confraria e ficava me perguntando onde estao os outros. Nao eh possivel caminhar na cidada sem ficar sentindo a secura e o calor insuportavel vindo das pistas e calçadas, porque nao havia muito lugar para se caminhar, afinal eh mais importante mostrar a imponencia da arquitetura do que salvar as arvores. Tudo tinha que estar no lugar certo, mas estava no lugar errado. A minha primeira impressao de Brasilia foi um museu arquitetonico. Antes mesmo de pensar em morar em Brasilia, tive um sonho de que estava caminhando por la e tudo estava velho, acabado e abandondado e foi essa a primeira impressao que tive ao me mudar.

    Por outro lado, sou agradecida de ter ido morar la, porque eu conheci muita gente maravilhosa, como voce, e a cidade me recebeu de braços abertos. Construi meu lugar, tive meu trabalho, comi meus sushis com meus melhores amigos. Meu sentimento em relaçao a Brasilia eh ambiguo, mas me entrego ao lado bom e sinto muita saudade! Obrigada, Brasilia, por me dar os melhores amigos e me dar segurança.

    Um beijao, meu amigo-poeta-ator-cantor-pianista-autodidata-Matheus-Ciuciuquinho.

    Luv u 4ever!

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  2. Fabuloso seu texto. Continue assim e poderá virar um escritor famoso, além de ator.

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